domingo, 20 de janeiro de 2008

LOVE RÉQUIEM

LOVE RÉQUIEM

Ou Diário de Uma Separação

Para Cristiane Mota

Ferriól Cabanas


a memória reflete no espelho
o estado de lembranças mortas:
um passado construído sobre coisas e nomes
que pouco-a-pouco vai ficando abandonado
num velho pacto de anos atrás

a viagem inesquecível a dois
fotografa as imagens perenes
que não guardam mais o caráter virginal,
porém desenha o vento gelado da cordilheira andina

o tempo muda o jeito de sermos únicos
onde permanecer juntos é menos que viver
é continuar náufragos de uma intimidade
que não tem mais nenhuma importância

o amor ficou preso na felicidade estrangeira
e nos transformou em meros fantasmas ambulantes
abandonados no site de um tempo inalcançável
que encarcerou a culpa da sensibilidade aguçada

a recordação do sexo, feito tantas vezes,
ergue um templo exclusivo da repetição
dói imaginar visitantes bárbaros
nos lugares sagrados da peregrinação
antes realizada somente por dois viajantes habituais

os diálogos interiores da separação consomem o dia-pós-dia,
as intermináveis perguntas sucedem-se velozes
intercalando a necessidade urgente de partir
e o antigo desejo de permanecer um pouco mais,
como despedida ainda sem data marcada

mas na hora derradeira desta eternidade personalizada,
me transformo em assassino de mim mesmo
planejo o enterro de nossa herança póstuma
enquanto os coveiros imutáveis do tempo
fazem sua reverência sacrílega
ao som de um love réquiem tocado no vento

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